Hoje cedo fui comprar pão e frios na padaria perto de casa. Vazia, com as mesas e cadeiras todas encostadas num canto do salão, parecendo dia de faxina ou de mudança. Quase deprimente.
Enquanto esperava o rapaz cortar meus frios, puxei conversa com ele e com uma atendente (que é a mais sênior deles).
Eles concordaram comigo que a quarentena deverá ser estendida, pois na periferia as pessoas não estão respeitando nenhuma regra.
E o rapaz completou: “lá em Osasco a vida segue normal, gente fazendo churrasco e festas, gente ‘batendo’ laje, comércio aberto. Meus dois vizinhos estavam conversando e eu só escutando: ‘está tendo uma guerra entre China e EUA, eles estão se atacando, jogando doenças um para o outro. Isso aí de coronavírus não existe!’ Quanta ignorância, meu Deus, eles nem sabem o que se passa de verdade no mundo. Eu tenho uma filhinha de 9 meses, estou me cuidando muito, apavorado. Concordo com a quarentena e só tem uma coisa que eu não gostei: eles reduziram muito os ônibus. Minha linha só tem dois carros rodando, sempre lotados. De 40 minutos, passei para 90 minutos para chegar na padaria, no mínimo!”
E a moça, “concordo que vai ser estendido, está morrendo muita gente. Já perdi duas amigas, estou sempre ouvindo histórias de pessoas que morreram do coronavírus. Mas eu moro em Paraisópolis e lá está todo mundo respeitando.”
Quis perguntar se era uma imposição do PCC ou se era um ato espontâneo da comunidade, mas os frios ficaram prontos. Peguei os pãezinhos e os pães de queijo: hora de voltar para a prisão domiciliar.
Da próxima vez descubro.
E sai pensando: de novo, dois brasis e dois mundos que não se conhecem.
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