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Foto do escritorMarcelo Costa Santos

Brevíssimas crônicas da vida cotidiana

Atualizado: 24 de out. de 2023

Ontem fiz minha primeira viagem pós COVID, super tranquilo e sem paranóia.


Duas coisas me impressionaram: aeroporto relativamente vazio, mas voos completamente lotados, tanto na ida como na volta. E a estupidez das restrições. Não se pode sentar ao lado de ninguém enquanto se espera o voo, mas depois vamos todos quase no colo uns dos outros dentro do avião. Juro que não dá para entender…


Mas o que mais me chocou foi o casal ao meu lado no voo de ida.


Ela ficou ouvindo e mandando mensagens de voz no celular até quase a decolagem, mas sem fone de ouvido e sem nenhuma cerimônia. Todos nós pudemos participar nas suas decisões e problemas cotidianos…


Assim que o Wi-Fi de bordo foi liberado, eles não tiveram dúvidas: baixaram a mesinha, apoiaram seu iPhone 11 e começaram a assistir noticiário no maior volume possível.


Também sem fone de ouvido!


E fiquei pensando em como os dois eram clichês ambulantes do Brasil: com relógios e telefones Apple, possivelmente endividados, bolsa e roupas de marca (com a marca bem visível), postura de “elite” mas sem nenhum, absolutamente nenhum respeito ao seu entorno. O que vale para os colegas de voo vale para a cidade, para as minorias, para todos os outros e para o país como um todo.


Somos o país das aparências, dos privilégios e dos “direitos adquiridos”, gastamos e vivemos muito além das nossas reais capacidades de gerar riqueza, não temos nenhum respeito ao nosso meio ambiente nem para com nossas minorias (especialmente os negros e pardos que hoje já são a maioria) e ainda ficamos irritados quando alguém ousa nos criticar, mostrar nossas inconsistências e hipocrisias, impor limites ao nosso mundinho medíocre.


E, pensando nisso tudo, ponderei entre tossir muito e dizer que estava saindo da COVID, ou pedir para que eles mostrassem um mínimo de civilidade e desligassem o áudio do telefone. Afinal, os mais de 10 passageiros no entorno imediato não tinham escolhido ouvir o noticiário com eles…


Mas aí achei que não valia a pena, pois da mesma forma que eles são um clichê ambulante do nosso Brasil, também são um lembrete de que não temos a menor chance de dar certo como país.


E pus meus fones de ouvido e aumentei o volume.


Triste povo.




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