Estava abastecendo no posto perto de casa, bairro antro de coxinhas, quando resolvi puxar conversa com os frentistas. Além dos 3 que sempre estão lá de domingo, havia mais dois passando o tempo.
Primeira pergunta: votaram hoje? “Sim, claro. O posto abriu mais tarde para dar tempo”.
Segunda pergunta: e em quem votaram? “João Dória, claro” e um deles: “sempre votei no PT, mas não dá mais, né?” E a conversa ficou animada, passando pelo Russomanno, segundo turno, etc.
Mas a coisa começou a ficar animada mesmo quando entrou em cena um morador da localidade vizinha (Vila Madalena, bem ao lado de onde moro).
Mais estereótipo/típico, impossível: barbudo, de bicicleta (veio calibrar os pneus) e de camiseta vermelha. Ele escutou um pouco e foi logo lascando: “vocês deveriam votar no melhor prefeito que SP já teve, o Haddad!”
Eu tentei resistir, especialmente por já ter sido um barbudo com ideias sem pés nem cabeça, mas não deu. Com muita calma e tentando ser o mais blasè possível disse que ele estava enganado, que o Haddad podia até ser o queridinho do pessoal descolado do Centro Expandido, mas onde o voto vale mesmo, na periferia de SP, ele era visto como um péssimo prefeito.
O rapaz ainda tentou me acusar de não conhecer a periferia, mas logo matei esta linha de argumentação dele, pois nitidamente ele, que é supostamente “alinhado” com o pobres, de periferia só conhece o restaurante Mocotó…
Ele ainda ficou mais incomodado quando eu disse que a real representante dos pobres era a Marta, mas que mesmo isso não tinha sido suficiente para dar votos para ela. A reação dele: chamar a Marta de traidora, algo até correto, mesmo para os baixos padrões brasileiros, mas que não explica tudo.
Pior, sugeri que ele confirmasse minhas palavras com os frentistas, todos eles moradores da periferia e os supostos interessados em manter um governo progressista (sic).
Para desespero do rapaz petista, os frentistas começaram a detonar o Haddad, falaram bem da Marta, mas que tinham votado mesmo (todos eles) no Dória. Fechou o tempo e o chão sumiu debaixo da bicicleta dele.
O desespero na expressão dele era patente, misturado com um olhar de desprezo para com aqueles que ele supostamente defende em sua cruzada anti-capitalista.
Estávamos neste ponto quando ele resolveu apelar: começou a justificar as mazelas administrativas do Haddad num suposto orçamento restritivo, obra do PSDB e do PMDB (sic).
Estranhei a total falta de realidade e de lógica, mas resolvi não questionar pois não gosto de chutar cachorro morto: o Haddad não era o melhor prefeito de SP há meros 90 segundos? Agora era vítima da “direita”? Estranho, né?
Ah, essas teorias da conspiração que explicam tudo, fazem o mundo tão mais simples, tão mais fácil de encaixar no modelo maniqueísta e simplório de tanta gente.
E fiquei com pena dele. E me lembrei de todos os petistas que teimam em defender o indefensável. E a pena passou.
Ele vai ter que tomar muita porrada da vida para crescer. E, mesmo assim, talvez nunca aprenda. Coisas de petistas mauricinhos que adoram discutir sobre pobres em barzinhos da Vila Mada.
Vida real que é bom, nada!
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