Nos últimos 100 anos temos atravessado um processo de mudança social profunda, às vezes lento, outras vezes nos dando a impressão que está regredindo, mas não se iludam: o lugar das mulheres nas sociedades ocidentais ou asiáticas mais sofisticadas mudou radicalmente e será cada vez mais forte, cada vez mais participativo, cada vez mais desruptivo.
Simultaneamente, nos últimos 40 anos o progresso tecnológico, somado à uma maior integração entre regiões do mundo, mudou a dinâmica laboral: homens brancos e com baixa escolaridade, que sempre foram os provedores e os líderes incontestes em suas famílias perderam o emprego, deixaram ser os provedores principais, assim como, em muitas famílias, passaram a receber remuneração significativamente menor que suas esposas. E ainda nem estamos sentindo os impactos dos últimos avanços tecnológicos: a inteligência artificial deverá acabar com empregos tidos como masculinos antes, aumentando o impacto socioeconômico nos homens.
Para piorar, passamos por uma mudança significativa nos costumes sociais: a integração das mulheres no mundo laboral e sua maior proeminência social foi acompanhada – coincidência ou não – por maior tolerância com os homossexuais, pelo surgimento do politicamente correto, pelas políticas de quotas raciais, pelo ambientalismo, entre outras melhorias e avanços das últimas décadas.
Sempre que vivemos movimentos de mudanças sociais profundas, avançamos em um bolero eterno: dois passos para frente e um para trás. Ou seja, há momentos de avanço inequívoco, mas outros onde parece que estamos fadados a retroceder. Mas o ir e vir faz parte do processo natural de aceitação e mudança. E a mudança continua, inexorável e paulatinamente, impactando todos nós.
Ao mesmo tempo em que atravessamos mudanças sociais profundas, a revolução industrial 4.0 está só começando. Não foram os Mexicanos ou Chineses que roubaram os empregos industriais do meio-oeste norte-americano, foram as novas tecnologias… e estamos bem no comecinho do processo de ruptura que será gigante, de proporções nunca vistas antes.
Mal comparando, estamos vivendo em tempo real, ao vivo e à cores, uma mudança social que só se compara em magnitude com o fim do Feudalismo, quando hordas de pessoas foram expulsas dos campos e, enquanto não começava a Revolução Industrial, vagavam miseráveis, morriam de fome e de peste bubônica ou fugiam para o Novo Mundo.
Dentro desse contexto conseguimos explicar como um Trump é eleito pelos colégios eleitorais que sempre foram Democratas: homens brancos, de baixa escolaridade e se sentindo excluídos do progresso, da riqueza que eles sabem que está sendo gerada à sua volta. Também explicamos os ingleses pobres do norte que votaram em massa pelo Brexit (os mais ricos do sul votaram sonhando com uma volta dos tempos imperiais…).
Não por coincidência os eleitores mais “hard core”do Bolsonaro são exatamente desse perfil: homens brancos, urbanos e de baixa escolaridade que se sentem ameaçados pelo novo mundo que os cerca, um mundo hostil à tudo que lhes é familiar e que eles sempre acreditaram imutável. Some-se à esse perfil a nossa classe média que perdeu seu status social desde o Plano Real. Equivocadamente, esta classe social que se apropriava de imposto inflacionário e conseguia manter um padrão de vida muito acima de suas rendas reais, sempre identificou o fim de seu status social com os governos do PT, uma vez que o Lula colheu todos os frutos plantados pelo FHC em seus dois mandatos. (Depois a anta da Dilma poria tudo a perder…)
Essa união de rotos e esfarrapados sociais e econômicos deram os 20% necessários para catapultar o Bolsonaro para a liderança na corrida. O resto veio por gravidade, por cansaço do PT e de suas mentiras, pela crise econômica nunca antes vista no país e pela profunda descrença nos políticos brasileiros. O Bolsonaro soube como ninguém se posicionar como o “novo”, nosso Dom Sebastião de direita que veio para nos redimir.
Do outro lado temos o Haddad, que tenta representar a outra metade dos excluídos, os mesmos 20%, só que do lado de lá. São aqueles que nunca tiveram qualquer chance de progresso no mundo atual, e isso sem levar em consideração a revolução tecnológica que iremos enfrentar rapidamente.
Esse povo que apoia o Lula e o PT, e de tabela o Haddad, não por acaso está majoritariamente no Nordeste, nas periferias das grandes cidades, nos fundões e regiões pobres, miseráveis e dominadas pelo assistencialismo. Essa massa de destituídos e manipulados vota no PT, no Lula e no seu poste por uma única razão: pânico de perder o pouco que lhes é dado, as poucas migalhas que lhe são permitidas, inclusive pela esquerda (sic) que deveria protegê-los.
A esquerda brasileira, e aí eu incluo o atual PSDB, Rede, Ciro, PSOL, etc, não entendeu as dimensões das mudanças que temos pela frente. Pior, não entendeu que defender menos Estado, menos funcionários públicos, menos BNDES, etc, significa defender o fim de castas privilegiadas que expoliam o Estado. Não, eles acham que advocar isso é defender a elite brasileira. Nada mais equivocado.
Tanto faz se são sindicalistas defendendo salários desconectados da realidade para os funcionários públicos, se são empresários defendendo seus benefícios fiscais ou aquele empréstimo camarada do BNDES: são todos farinha do mesmo saco, as várias faces da mesma moeda. A elite brasileira nunca ganhou tanto dinheiro como nos governos PT e, consequentemente, tem pouquíssimo interesse em mudar seu esquema. O mesmo vale para a burocracia estatal e suas várias ramificações. Surreal neste nosso país é ver a esquerda defendendo crédito subsidiado para empresário, tarifas elevadas para “proteger empregos” (sic) e faculdade gratuita para nossas elites…
Parafraseando o Mario Covas de 1989, o Brasil precisa de um choque de capitalismo, mas não aquele que o Covas e o atual PSDB defendem. Precisamos de um choque capitalista mesmo, híper-ultra liberal: abertura da economia, redução drástica do Estado (com demissão de servidores e redução de aposentadorias), simplificação da nossa estrutura tributária e redução dos impostos regressivos (que punem a população de renda mais baixa), fim das isenções fiscais, fim do ensino superior gratuito, investimentos profundos em educação de base, de alto nível e gratuita, mudança ainda mais profunda das leis trabalhistas (com o fim da CLT e da Justiça do Trabalho). Em contrapartida, precisaremos de mais Bolsa-Família, de mais bolsas de estudo para as universidades e de políticas sociais que atinjam os necessitados, e não as atuais que só servem para manter uma máquina estatal inchada, ineficiente – que entrega serviços padrão africano – mas que em compensação se remunera em padrão sueco.
Não concordo com as visões sociais do Partido Novo, pois sou favorável ao controle das armas, sou favorável à descriminalização das drogas e ao aborto, sou favorável a cotas raciais e ao Bolsa-Família, ou seja, sou de esquerda do ponto de vista social. Mas nossa esquerda é profundamente retrógrada do ponto de vista econômico e o único partido que tem as visões de mundo adequadas à economia brasileiro no longo-prazo é o Novo.
Por isso, vou votar no Amoedo, no senador deles e nos deputados deles.
No segundo turno, contrariando o que sempre defendi, vou votar no Bolsonaro pois ainda tenho esperanças no Guedes e na conversão do Bolsonaro ao liberalismo econômico. Prefiro isso à termos mais 20 anos de PT na nossa cabeça, terminando o trabalho de destruição da economia iniciado pela Dilma.
De nada adianta termos uma sociedade liberal do ponto de vista social onde muitos passam fome e onde uma elite retrógrada com verniz de moderninha mama nas tetas do Estado.
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