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Foto do escritorMarcelo Costa Santos

Milton Nascimento

Atualizado: 25 de nov. de 2023

Aqueles que me conhecem, sabem que a música permeia profundamente a minha vida. Praticamente todas as fases da minha vida estão marcadas por alguma trilha sonora que dominava meu dia a dia.


E ouvi-las de novo é sempre fazer uma viagem no tempo, revisitar um momento - bom ou ruim, tanto faz -, criando novas memórias músico-afetivas.


Hoje sei que deveria ter sido músico. Mas a falta de disciplina e de talento natural para aprender na velocidade que minha ansiedade juvenil demandava, acabaram me empurrando para só começar a aprender piano com mais de 50 anos. Cinco anos depois e ainda estou martelando!


Sei que meu gosto musical é peculiar, eclético e tem evoluído com o tempo. Mas há um músico que tem um lugar muito especial, eterno: Milton Nascimento.


Com o anunciado fim da carreira dele e última tour mundial, toda a emoção da sua música explodiu de repente. E fui inundado de lembranças, momentos, pessoas, sonhos juvenis, cidades, países, amigos que já não são ou estão, paixões, saudades, dores de perdas.


Mostrei recentemente o disco Caçador de Mim para minha filha, de ponta a ponta, música a música. Lá pelo meio ela me perguntou que estilo de música era aquele. Achei a pergunta surpreendente, mas depois, ao montar a lista “básica” do Milton no Spotify, entendi a real dimensão da dúvida dela: é impossível não enquadrar a música dele como um “jazz-música mineira-sofisticada” com fortes tons tradicionais brasileiros. Está muito longe da tradicional MPB, da Bossa Nova, ou ainda do Samba.


Eu comecei a ouvir Milton em 1982, no meu aniversário de 15 anos, quando levei três discos dele para casa: Milagre dos Peixes, Clube da Esquina 1 e 2. Depois vieram todos os outros, pois nos 20 anos seguintes eu comprei todos os seus discos duas vezes.


Primeiro em vinil, depois em CD.


Muitas das pessoas próximas ou não gostam do Milton, ou só “têm paciência” para algumas músicas.


Eu entendo, pois Milton Nascimento é gosto aprendido e adquirido, demanda esforço, foco total, prestar atenção aos detalhes, se permitir sair do habitual, deixar se surpreender com harmonias completamente fora do padrão ao mesmo tempo em que se ouve uma voz única, letras estupendas (quase todas de terceiros) e melodias incríveis. Mas sei que não é para todos.


Para mim a música dele sempre soou natural, de primeira entrava fácil no coração e na alma, emocionava imediatamente. E cada vez que escuto, a cada ano que passa, descubro coisas novas, detalhes da harmonia ou do arranjo que tinham me escapado.


Mesmo as letras datadas dos anos 60-70 conseguem ser ressignificadas ou desculpadas pelo contexto da sua época. E continuam emocionando.

Quando se junta músicos de jazz de altíssimo calibre, da melhor formação do Miles David (Ron Carter, Herbie Hancock e Wayne Shorter), mais Peter Gabriel, Pat Matheny, James Taylor e Nana Vasconcelos num único disco, fica claro sua genialidade. Sei que ‘Angelus’ deve ser a melhor obra do Milton, mas o Wayne Shorter e Herbie Hancock estão sempre batendo ponto nos discos e shows dele. ‘Miltons’ é outra obra prima com arranjos e improvisações impressionantes do Herbie em ‘San Vicente’ ou ‘Feito Nós’.


E fica claro que jazz é a qualificação mais apropriada ao Milton. Mas daí vem ‘Raça’, ou ‘Circo Marimbondo’ (com a Clementina de Jesus), ou ainda suas interpretações de ‘Beatriz’, ‘Mistérios’ ou ‘Amor de Índio’ que quebram nossas pernas. Fico imaginando a Joyce, Chico, Edu Lobo ou Beto Guedes que nunca mais vão conseguir cantar suas músicas após o estrago feito pelo Milton…


Na sequência resolvemos ouvir ‘Beijo Partido’ (do Toninho Horta) e recebemos outro soco no estômago. Jazz brasileiro puro!


Recentemente entendi que minha transição de MPB para Jazz, já perto dos meus 18 anos não foi da MPB, mas do jazz do Milton para o jazz sem o Milton. Não haveria Miles Davis, Dave Brubeck, Egberto Gismonti ou Chic Corea na minha vida sem o Milton Nascimento.


Sem ele minha vida (musical) teria sido muito pobre.


Vou assistir ao show dele em “quase luto”: ele faz 80 anos este ano e será o último. Ele supostamente está doente e não sabemos quanto tempo mais ele estará por aqui.


Há poucas pessoas insubstituíveis no mundo. Milton Nascimento é uma delas.


Vamos aproveitar o tempo que nos resta com ele. E continuar a ouvir, reouvir e redescobrir suas obras-primas.


Para quem quer conhecer o ‘meu’ Milton, as músicas que me acompanham e me emocionam desde que me considero gente, compartilho minha lista “básica” do Spotify.






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