Problemas de Comunicação ESG, Xenofobia, Etnocentrismo Religioso e a (auto) extinção dos humanos
- Marcelo Costa Santos
- 23 de out. de 2023
- 3 min de leitura
Hoje recebi um vídeo de um eurodeputado espanhol do partido Vox (de extrema direita) – Jorge Buxade.
Esse eurodeputado faz pouquíssimo caso da agenda de redução do aquecimento global e equaciona a entrada de imigrantes na Europa ao terrorismo, ao desemprego, num discurso que beira o neonazismo de tão xenófobo que é.
Mas esse vídeo me fez pensar em outra coisa, que tem sido objeto de conversas e textos que tenho publicado nos últimos anos.
A xenofobia do euro-nazi-deputado é nojenta, mas eu acho muito mais grave o que ele diz sobre o meio ambiente, fazendo um trade-off entre aquecimento global, crescimento econômico e imigração (parte verdadeiro, parte surreal, parte xenofobia tosca mesmo – como sempre vemos em teorias da conspiração).
Estou envolvido com conservação ambiental e créditos de carbono e há duas lições claras que aprendi nos últimos 18 meses: (i) o problema é GRAVÍSSIMO e pouca gente está prestando atenção ao que está se passando com o planeta; (ii) não temos muito tempo para reverter a situação e o discurso mais usado (“salvar o planeta”) é pouco eficiente do ponto de vista de marketing e engajamento.
A Terra não precisa ser salva, pois para quem acredita na ciência (como eu) a existência dos humanos é uma mera sorte, um acaso randômico evolucionário (para pessoas como eu, não há absolutamente nada de divino na existência humana pois não foi deus que nos criou, foi pura sorte evolutiva…).
Se não preservamos a HABITABILIDADE dos humanos na Terra, absolutamente NADA, mas NADA mesmo acontecerá com a Terra.
A Terra vai estar por aí pelos próximos 4 ou 5 bilhões de ano, até o Sol se apagar e daí virar um Supernova ou buraco negro, como acreditam alguns, ou simplesmente se expandir até Marte como uma Gigante Vermelha e depois virar uma Nebulosa Planetária.
Mas até lá tem chão e a vida na Terra vai continuar por esses 5 bilhões de anos, todavia não necessariamente com os humanos por aqui. Toda a vida na Terra até pode acabar se tivermos uma catástrofe cósmica, desde de cometas gigantescos, meteoros maiores do que o que acabou com os dinossauros, ou Supernovas tipo 2.
Mas o que se passa hoje é que nós, e somente nós, estamos causando a nossa auto extinção. E possivelmente da maior parte dos mamíferos junto conosco.
Em poucos milhões de anos pode ser que tenhamos mamíferos de volta, ou que a Terra seja dominada por outras espécies (baratas ou formigas, por exemplo…).
O que as iniciativas ESG e os ativistas ambientais não estão comunicando com clareza suficiente, em minha opinião, é o que está de fato em jogo, o que deveríamos estar discutindo de verdade: a extinção dos humanos, e não “salvar” a Terra!
Para mim, parte desse discurso de “salvar a Terra” vem da crença que somos os seres dominantes do planeta por decisão divina, por escolha de um ser mágico imaginário que nos “deu de presente” a Terra e tudo criou. Essa lógica traz em seu bojo a crença subconsciente que deus irá resolver tudo, afinal somos feitos em sua imagem e semelhança e ele é onipotente e onisciente. Ou não é?
Precisamos entender, de uma vez por todas, que precisamos salvar os humanos, não a Terra! “Salvar a Terra” será efeito colateral de preservamos a habitabilidade para nós mesmos.
Agora, esse eurodeputado espanhol é um imbecil triplo: diz que os pobres não se importam com o meio ambiente, uma vez que ele não entende que se não revertermos o aquecimento global não vai mais haver pobres. Nem ricos, nem nenhum ser humano.
Depois ele liga a preocupação dos europeus ao clima à um suposto desleixo institucional que permite a livre entrada de imigrantes, como se nada estivesse sendo feito para reduzir ou conter o fluxo de imigrantes.
Mais, ele equaciona TODOS os imigrantes ao terrorismo. De fato, os serviços de segurança europeus comeram bola nos últimos anos, com alguns atentados feitos por imigrantes que nem deveriam ter sido aceitos (ou que deveriam ter sido deportados sumariamente). Há exemplos na Suécia, no UK e na Espanha, mas isso não transforma TODOS os imigrantes em terroristas.
Por fim, corto o saco se esse deputado não usar imigrantes legais ou ilegais para fazer trabalhos braçais ou desqualificados que seus compatriotas se recusam a fazer.
É assim na Europa toda, nos EUA, Canadá, Austrália e em todo o mundo rico. São sempre imigrantes que recolhem o lixo, que limpam as ruas e os banheiros, que atendem os clientes em bares e restaurantes, que trabalham nos canteiros e fábricas por baixos salários, muitas vezes em condições degradantes.
Além de exibir muita burrice e ignorância, o fulano é um xenófobo imbecil.
E faz um desserviço enorme ao esforço em curso para convencer a opinião pública da importância em preservar a habitabilidade do planeta para nós, humanos.
Independente de sermos imigrantes ou não…

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