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Foto do escritorMarcelo Costa Santos

Psicoterapia e o pensamento mágico da esquerda

Atualizado: 26 de jun. de 2024


Tenho percebido que, pessoas que se autodenominam “progressistas” ou de esquerda são extremamente críticas à qualquer metodologia que seja minimamente identificada com o positivismo.


De fato, a metodologia científica positivista tem inúmeros defeitos e falhas, mas foi importante na busca por mais racionalidade e objetividade no mundo científico, fazendo parte do progresso do pensamento filosófico humano.


Até aí, estamos (quase) todos de acordo. O problema surge quando se menciona Karl Popper e Thomas Khun, os pais da metodologia científica moderna.


Em linhas gerais, Popper critica ferozmente o positivismo, trazendo elementos novos e muito ricos para a ciência.


Popper cria 5 regras básicas para definir o que é ou não é científico: 1. falseabilidade (é preciso provar que Deus existe e não o contrário); 2. teste crítico (todas as teses/teorias científicas devem ser testadas constantemente para ver se ainda são válidas, ou seja, a ciência está sempre questionando e duvidando de tudo e de si própria); 3. pensamento dedutivo e refutação (todas as teorias ou hipóteses propostas não precisam ser derivadas de observação empírica, mas devem ser sempre testadas); 4. racionalidade, pensamento crítico e sociedade aberta (possibilidade permanente de estar errado e de mudar de ideia); 5. conhecimento objetivo e progressivo (ciência está sempre progredindo, descartando teorias obsoletas por teorias melhores/mais precisas).


Khun adiciona o aspecto político à metodologia de Popper, trazendo o conceito de paradigma científico dominante que é lentamente substituído por outro novo paradigma, normalmente pelos cientistas mais novos e mais abertos às mudanças e ao progresso.


O exemplo histórico mais óbvio vem do pai da ciência moderna, Isaac Newton, que teve sua física renegada pelos “velhos” cientistas, sendo lentamente adotado pelos mais jovens. Darwin sofreu a mesma resistência, assim como outros cientistas ao longo dos séculos.


Quem conhece as regras científicas positivistas, já entendeu que Popper/Khun nada têm de positivistas, pelo contrário.


Todavia, a metodologia científica advinda deles é refutada pelos cientistas sociais de "esquerda" e pela psicologia tradicional, normalmente sob a acusação de ser positivista e, portanto, obsoleta.


O que esses cientistas sociais não percebem é que usam argumentos falaciosos para defender pensamentos mágicos, sem nenhum fundamento científico.


É como acreditar em astrologia ou homeopatia, dois exemplos acabados de pseudociência e pensamento mágico. Como diz meu filho, astrologia e homeopatia são terraplanismo socialmente aceitos...


No caso da esquerda isso se aplica com muita intensidade às teorias econômicas consideradas de “direita” (sic), pois a economia moderna não considera narrativas mágicas sem fundamento científico de um Celso Furtado ou Caio Prado como hipóteses cientificamente válidas, uma vez que elas já foram refutadas por fatos e/ou pelos resultados de políticas econômicas implementadas sem sucesso.


É importante entender que a economia, como ciência, não tem ideologia; políticas econômicas e sociais escolhidas pelos políticos, sim! Economistas simplesmente mostram qual é a fronteira da eficiência de uma dada escolha política e mostram o que funciona e o que não funciona. Quem decide e implementa são os atores políticos, sempre.


Ao mesmo tempo a metodologia científica moderna destrói, sem dó nem piedade, o Marxismo e suas visões do capitalismo uma vez que Marx e seus seguidores se baseiam em premissas metafísicas, quase religiosas, nas suas visões de mundo.


Já que a realidade dos fatos, os testes empíricos das diversas teorias econômicas nos últimos 70 anos não corroboram as suas narrativas mágicas, "pensadores" de esquerdas optam por atacar a metodologia científica ao invés de rever suas posições.


Isso se dá tanto por preconceitos, como por recusa em renegar suas bases de “conhecimento”, sem entender que é possível manter suas visões “progressistas” dentro de um novo arcabouço científico.


De novo, uma coisa é a teoria econômica científica, outra são as políticas socioeconômicas implementadas.


É como acusar a gravidade de ser de direita só por puxar todos para baixo, “mas em especial os mais pobres e vulneráveis…”


Na América Latina e sul da Europa a esquerda tosca tende a buscar atalhos mágicos, rápidos e indolores, normalmente preservando privilégios existentes e sem se preocupar minimamente com a eficácia e efeitos não-intencionais das políticas propostas.


Como resultado prático disso vemos os dois maiores países da América do Sul, Brasil e Argentina, ambos adoradores da “alquimia econômica de esquerda”, em decadência há décadas, cada vez mais pobres, atrasados e desiguais.


Já quanto à psicologia tradicional, o problema é simplesmente metodológico, uma vez que Freud, seus discípulos, variantes e dissidentes não seguem nenhum preceito Popperiano, em especial a falseabilidade e o teste crítico, usando diferentes explicações contraditórias para uma mesma situação.


No limite, uma pessoa pode ter uma condição X por ter tido pouca atenção materna ou excesso de atenção materna ou por outra razão qualquer, não permitindo qualquer verificação científica independente.


A real fronteira científica da psicologia está na biologia e na neurociência. Em poucas décadas as doenças mentais terão outro tipo de tratamento, possivelmente genético-químico, assim como o entendimento mais preciso do funcionamento da mente humana irá causar uma revolução nas teorias econômicas. Afinal, micro e macroeconomia são direta e inequivocamente relacionadas ao comportamento humano.


Por fim, e como usuário ativo da psicanálise (e feliz com os resultados), sei que a psicoterapia, mesmo não sendo “científica”, é um caminho válido de autoconhecimento e melhora na qualidade de vida das pessoas.


Mas como tudo que é mais arte do que ciência, sua eficácia depende mais da capacidade intelectual, bagagem cultural, técnica e intuição dos terapeutas do que de métodos objetivos e abertos ao questionamento crítico permanente.


Ou seja, no limite psicoterapia é arte, não ciência. E arte é um instrumento poderoso e fundamental no autoconhecimento, assim como de mudança do mundo e das pessoas.


Só não precisa tentar dar roupagem de ciência.


Já quanto aos economistas e pensadores sociais de esquerda que se recusam a abraçar a ciência moderna, nem Freud consegue explicar ou ajudar!



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