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Foto do escritorMarcelo Costa Santos

Sobre China e Brasil, dois mundos díspares tão similares!

Atualizado: 23 de out. de 2023

Um dos assuntos que mais me interessam atualmente é a dinâmica política dos países: como as elites lidam com o poder, com o conflito distributivo e como são suas visões estratégicas para suas nações.


Hoje vi duas notícias que, na superfície, nada teriam de conexão: (i) o fraco crescimento da China e a enorme (diria inexorável) possibilidade de o país não conseguir ficar rico antes de sua terrível crise demográfica (já contratada e irreversível) e (ii) como o Brasil, mesmo com a reforma de 2019 da previdência social, está entre os piores países no ranking de sustentabilidade do seu sistema de aposentadorias.


Há anos eu ouço dizer que a China será a nova potência, a líder do novo eixo Sul-Sul (que também inclui o norte, tal como explicado pela Dilma…), que o dólar perderá sua primazia e o Ocidente ficará para trás e que a Ásia será o novo centro mundial, entre outras sandices. Nosso atual presidente e boa parte da esquerda acredita nisso.


Essa crença é baseada na tradicional mistura de “torcida” com realidade. Geralmente os que creem nisso são anti-capitalistas em algum grau e/ou anti-americanos.


Minha visão da China é outra: será um país relevante, claro, tanto pelo tamanho como pela sua população. Mas eles ainda estão muito longe da sofisticação tecnológica do Ocidente, tem uma concentração de renda indecente, uma ditadura que recrudesce mais a cada dia, muita corrupção e uma crise demográfica já em curso que será terrível para o país.


Muito do “crescimento” chinês das últimas décadas foi fundamentado em investimentos em infraestrutura com retornos marginais decrescentes (arriscaria dizer negativos nos últimos 5 anos) e muito endividamento. E seus resultados estão concentrados em 30% da população. O resto vive na pobreza, sem liberdade de movimento e sob opressão permanente.


Agora a fórmula se esgotou, tal como no Brasil, e veremos anos de crescimento real pífio, junto com o rápido envelhecimento de uma população que não tem segurança social e investiu sua poupança em imóveis que, como sabemos, dependem de renda e demografia para rentabilizar de forma adequada. Apartamentos (cidades) vazios não geram renda para ninguém… Nem sustentam seu valor.


De forma sucinta, os próximos 30 anos serão péssimos para a China e sua população.


Quem apostar contra essa visão irá perder dinheiro.


E qual a semelhança com o Brasil?


Lá, como cá, as elites tomaram conta do poder de forma desproporcional às suas reais contribuições, algo que permite criar uma estrutura rentista que se retroalimenta. A corrupção e as mudanças constantes das regras estabelecidas são sintomas dessa estrutura, não a sua causa. A corrupção é fundamental para defender os privilégios a qualquer custo!


Até o atual ditador chinês desmontar o sistema autocrático criado pós Mao, e que garantia um mínimo de rotação do poder e de correção de rumo, a China ainda tinha chances de tentar navegar a pesadíssima crise que eles irão enfrentar. Com um ditador cada vez mais sanguinário e centralizador, o país tende a aprofundar erros, pois ninguém ousa contradizer quaisquer decisões equivocadas. Basta ver o que se passa na Rússia do Putin.


Há muita gente que acredita que o Brasil chega na beira do precipício, mas nunca pula, aprovando alguma reforma que nos distancia da tragédia iminente. O que não percebem é que nós já pulamos, mas de paraquedas, e estamos caindo há 4 décadas. Nossos vizinhos hermanos estão em queda livre há 12 décadas… e, tal como aqui, ainda não entenderam isso e continuam buscando soluções mágicas, rápidas e equivocadas para os problemas.


Se na China as elites que conseguem ver o drama que chega em velocidade não podem se manifestar, sob risco de perder a vida e suas benesses econômicas, aqui nós vamos aprovando umas reforminhas aqui, outras ali, somente atrasando um pouco nosso destino, sempre na esperança mágica do atalho redentor para a riqueza.


O IVA, que ainda será regulamentado, será um grande avanço. Mas é uma gota num oceano, um pequeno passo na direção certa, mas que por si só não garante a reversão da decadência de mais de 40 anos. O marco fiscal e a anunciada reforma do IR tampouco atacam a causa do problema. Os privilégios continuam quase intocados e a dinâmica de poder vem piorando, mesmo sem ditadura… O Centrão é a real cara do Brasil. Só não vê quem não quer.


Num mundo pautado pela crise demográfica, prevalência da inteligência artificial, robotização e decoupling/reshoring, será interessante ver a China convergir para a estagnação secular do Brasil e Argentina!


Será curioso ver os que torcem pelo fim da hegemonia ocidental descobrirem que EUA e Europa continuarão mandando no mundo.




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